Pensamento

"A história é a verdade que se deforma, a lenda é a falsidade que se encarna." Jean Cocteau

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Rua da Bainharia - Porto


Editor: Alberto Ferreira, 
Série: Série Geral, Postal: n.º 26.
Legenda: Porto - Rua Escura .
Observações: Na verdade a imagem corresponde ao início da Rua da
Bainharia, na interceção (Cruz do Souto) da Rua do Souto, dos Pelames 
e a famosa Rua Escura 

A Rua da Bainharia, a par do que aconteceu neste postal, já esta "habituada" a não ser identificada  correctamente, ainda hoje é erradamente designada por "Banharia" por muita gente, no Bilhete Postal, penso que não tenha sido propriamente um erro e sim uma tentativa de aumentar o "protagonismo" do postal identificando uma célebre rua, hoje não pelos melhores motivos mas no passado uma das ruas centrais da "vila", intimamente relacionada, não só geograficamente mas também pela história medieval que partilham, a Rua Escura.

Rua da Bainharia vista pela Cruz do Souto.
Foto in http://porto.taf.net, 2012

 A Bainharia  é uma das ruas mais antigas do velho burgo portuense, os primeiros factos históricos de referencia a Rua remontam ao ano de 1296. O Tombo dos Censos do Cabido de 1566 refere que ela ia da Cruz do Souto até à Ponte de São Domingos dos quais restam memórias. De um dos lados, a rua confronta a Cerca Velha, a muralha românica construída no século XII e do outro com o Rio Douro.

Rua da Bainharia e a encruzilhada Cruz do Souto
Foto (editada) de Carlos Romão, 2010

Para alem do encurtamento inevitável de uma rua medieval no centro da velha cidade, demasiado extensa para resistir ás evoluções do tráfego e da malha urbana, este extremo da rua tem conseguido manter as suas características essenciais.

Placa da Identificação da Rua da Bainharia, pitada em azulejos.
Foto de Manuel de Sousa, 2007

A designação rua da Bainharia tem origem tão antiga como a sua própria existência medieval e deve o seu nome à grande concentração neste arruamento de bainheiros, artesãos que se dedicavam ao fabrico de bainhas para armas brancas, designadamente espadas.
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Na gravura acima na Praça da Batalha, na esquina
da Rua Entreparedes com a Rua Alexandre Herculano
o prédio onde coabitaram o Hotel Continental e,
no rés-do-chão à esquerda, a tabacaria Alberto Ferreira.

Alberto Ferreira foi um dos principais editores do Porto, tendo incluído nas suas séries BPI representativos de um elevado número de vilas e cidades, do norte e centro do país. Editou também alguns BPI temáticos, com relevo para a série que retrata o Carnaval de 1905 na cidade do Porto. As séries conhecidas incluem no total mais de 500 títulos, sendo a maior parte pertencente à sua "série geral" (que, para além do Porto, inclui imagens de um número considerável de outras localidades).

Series:
Carnaval de 1905
Coloridos 
Edição Especial 
Outros
Retratos de personagens Série Bussaco
Série geral
Série Moncorvo
Tabacaria Alberto Ferreira

Fontes:
outra-face.blogspot.com
paginas.fe.up.pt
porto.taf.net
pt.wikipedia


O Aparecimento dos Bilhetes Postais Ilustrados


A história mostra que o cartão-postal foi criado em meados do século XIX com propósitos fundamentalmente comunicativos. A sua origem terá estado numa destas três invenções:

Cartão Lipman (USA) 1861-1872, 
In www.metropostcard.com
Poderia ter sido o cidadão norte-americano H. L. Lipman, que juntamente com J. P. Charlton, patenteou em 18 de dezembro de 1862, o chamado “Lipman's Postal Card”. Entretanto não são conhecidos exemplares deste cartão de antes do início da década seguinte;

Outra versão diz que o diretor dos Correios da Confederação da Alemanha do Norte, Heinrich Von Stephan, pode ter lançado a ideia e a sugestão na Conferência Postal Germano-austríaca, em 1865;

Por fim, Emmanuel Hermann, professor de Economia Política, da Academia Militar Wiener Neustadt, no Império Austro-húngaro que, em carta publicada no Die Neue Freie Presse, de 29 de janeiro de 1869, propôs a adoção do cartão postal salientando a conveniência do uso de cartas mais simples que aliassem o baixo custo à simplicidade, o que poderia ser obtido com a supressão do envelope. De Marly, Diretor da Administração dos Correios da Áustria, aceitou a ideia e oito meses depois, em 1º de outubro de 1869, foi lançado para venda o primeiro cartão-postal do mundo - Korrespondenz Karte, escrito em cor negra sobre cartão creme, levando impresso um selo de 2 Neukreuzer.

Primeiro Cartão Postal emitido no mundo
Coleção Elysio de Oliveira Belchior
Relativamente ao aparecimento dos primeiros postais ilustrados oficiais, a literatura indica que a primeira proposta de oficialização do bilhete-postal ocorreu em 1865, no V Congresso Postal em Paris, e em 1869 foi admitida a sua circulação enquanto formato legítimo de difusão de mensagens. 

Em Portugal, tudo indica que a autorização ocorreu em outubro de 1877, e os primeiros postais ainda não ilustrados começaram a ser comercializados quatro meses depois, em 1878. Contudo, só em 1894 apareceu aquele que podemos considerar como o primeiro postal ilustrado português.

Bilhete Postal de 1894
Imagem In www.postais-antigos.com

O primeiro postal ilustrado português, com a gravura de Francisco Pastor, um gravador que se havia salientado na redação de periódicos e revistas, nomeadamente em O Ocidente evocava o V Centenário do nascimento do Infante D. Henrique, o descobridor das Ilhas Atlânticas e da Costa de Àfrica a Sul do Bojador.

Bilhete Postal de 1895
Imagem In www.postais-antigos.com


O êxito alcançado por este postal estimulou artistas e editores à publicação de outros. Em 1895, do III Centenário do nascimento de Santo Antonio (1195-1253), editaram-se mais dois, um oficial (desenho de A .Pedroso) e outro particular. A idéia dos postais ilustrados penetrou desde logo no comércio, datando de 1895 um publicitário da firma Santos Beirão & Henriques, que na sua Casa Memória vendia bicicletas e máquinas de costura.

 
Bilhete Postal de 1905 - Coroa Portuguesa

A vulgarização desta ferramenta deu-se apenas na última década do século XIX, devido à ânsia de circulação de imagens, que caraterizou a viragem para o século XX, bem como o seu custo reduzido. Este custo reduzido devia-se ao facto de já virem pré-estampados (não precisavam de selo) e de não necessitarem de invólucro, ao contrário do que acontecia com a carta. Entretanto, apesar dos postais ilustrados terem sido criados como um modelo alternativo à carta, exibiam o mesmo formato e dimensão do envelope, assim como eram as mesmas as formalidades “da escrita” inerentes ao formato de carta. 

Bilhete Postal de 1910 - Republica Portuguesa

Devido ao caráter físico dos postais ilustrados e da particularidade de poderem circular sem a proteção dos envelopes, pode-se dizer que o privado passou à esfera pública. A mensagem íntima e privada da carta, protegida pelo envelope, passou a ser do conhecimento de todos, o que terá causado, num primeiro momento, uma certa estranheza. 

Bilhete Postal do Porto, Segunda década de 20
Foto - Minha reprodução

No entanto, como se pode deduzir pela história dos postais ilustrados, isto não foi de todo um obstáculo para o sucesso deste modelo epistolar. Na realidade, o sucesso do postal ilustrado foi quase instantâneo. Sobretudo nas duas primeiras décadas do século XX, o postal ilustrado foi difundido com grande afinco, o que fez deste período uma fase emblemática da história dos postais. As suas edições multiplicaram-se por todo o mundo, aproveitando o grande desenvolvimento das artes gráficas e, mais especificamente, das técnicas de impressão de imagens. O baixo custo dos postais, a sua versatilidade temática e o desenvolvimento das técnicas de impressão de imagens fizeram com que também a publicidade reconhecesse o potencial dos postais ilustrados como ferramenta na comunicação de mensagens comerciais.

Cartão Postal da Westminster Abbey, Londres
Foto - Minha reprodução

Os temas retratados nos postais ilustrados foram, desde o início, de natureza variada: documentavam paisagens, assinalavam datas, acontecimentos importantes, produziam conteúdo de caráter político e até mesmo caricatural e brejeiro. 

Cartão Postal Alusivo ao Festejo do 1.º de Maio, Avenida dos Aliados, Porto
Foto - Minha reprodução

Atualmente, embora sirvam quase exclusivamente propósitos de promoção turística, os postais continuam a ilustrar retratos da vida rural e urbana, da atividade profissional, da etnografia e da arquitetura. 
Cartão Postal da  Praça de S. Pedro, Roma, década de 80
Foto - Minha reprodução

A nível nacional, apesar de só a partir de 1931 haver registo sistematizado e rigoroso das edições de postais ilustrados, é de se notar que estas produções constituem um grupo bastante rico a nível histórico, cultural e social.




quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Memórias do Douro

Edição: S. C. D.
Editor: Arnaldo Soares - Registado
Série: Colorido,
Postal: n.º 104.
Legenda: Porto - Vista Parcial
(Vista dos armazéns de vinho do Porto, em Gaia – 1900-1910)
Foto - Minha Reprodução

Até meados do século XX, o carro de bois foi o meio de transporte mais utilizado em portugal para carregamento e transporte das mais variadas mercadorias. Também nos cais do Rio Douro, estes eram utilizados para assegurar o transporte das pesadas pipas de vinho desde os barcos rabelos até as caves do vinho do Porto.
OS barcos rabelos subiam até ao douro vinícola, atracavam nos cais onde também aí o transporte das pipas era efetuado em carros de bois, desciam o douro até ao cais de Gaia para descarga, e o ciclo repetia-se.
Já desde meados do século XVIII, se pode ler (Nas Memórias das Freguesias do Distrito do Porto de 1758) se evidencia o grande tráfego do rio douro, "Nele há vários barcos que todas as semanas vão à cidade do Porto, levar fazenda de vinho, azeite, lenhas, frutas e de toda a espécie de fazendas que as terras dão de si.", os carros dos bois eram também usados para o transporte das mercadorias dos grandes barcos marítimos, centenas de toneladas de mercadorias eram desalfandegadas no cais de Gaia e Porto a qualidade dos serviços e despacho portuário e alfandegário é dito do melhor dos portos europeus.

Edição: O Porto de outros tempos, lugares de Camilo
Editor: Biblioteca Pública Municipal do Porto
Série: Colorido, 
Postal: n.º 5.
Legenda: Porto - Praça da Ribeira 
Impressão: MaiaDouro, 1990
Foto - Minha Reprodução

Há mais de 500 anos que o movimento de pessoas e mercadorias era intenso nos portos do douro, para alem da reexportação do Vinho do Porto, outros produtos agricultas e industriais eram exportados, chapéus, cutelaria e panos de linho de Braga, Guimarães, teias de Penafiel, e ainda ferragens, enxadas, foices e machados do Porto, com destino ao Brasil, estima-se uma média de 40 embarcações por ano.
Especificamente, em relação a Vila Nova de Gaia, são descritas na Memória de Santa Marinha de Vila Nova de Gaia: "Hé porto de mar, mas os navios mais se acolhem, ancoram e amarram aos muros e cais da cidade vizinha. Tem esta villa varias Companhias de arraezes de barcas, que todas tem 37 barcas grandes que carregam vinte pipas cheas. E servem continuamente para a carga e descarga de todos os navios portuguezes e de varias Reinos que aqui entram e para ajudar e valer nas entradas e sahidas e em todos os perigos de naufragios que succedem e em muitas cheas que hão no tempo de Inverno as quais todas se amarram nesta parte da villa. Tem para cima de cem barcos na passagem da villa para a cidade e de Gaia para a Porta Nova, Banhos e Lingoeta, a toda a hora que se querem e são precizos de dia e de noite. Aqui chegam todas os dias muitos e varias barcos de Cima do Douro, com vinhos, sumagre e frutas, que pela maior parte se recolhem nos armazens desta villa", coitados dos bois.

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Arnaldo Soares / J. N. B.
de Arnaldo José Soares
Praça de D. Pedro, 137 - Porto

"Esta casa editora, de média dimensão (terá editado cerca de 250 BPI), apresenta o interesse particular de ter concentrado a sua produção nas vistas da cidade do Porto (com a excepção de um conjunto referente a artistas portugueses, na sua série geral, a quase totalidade do restante diz respeito a vistas da cidade). Merece ainda realce o facto de existir nesta série geral um conjunto de clichés que retratam o "Porto antigo", reproduzindo portanto clichés que Arnaldo Soares teria recolhido de fundos fotográficos do século XIX.

Não é claro o esquema de numeração usado por este editor, que se inicia no 101 para a série colorida e no 152 para a série geral. Caso Arnaldo Soares tenha começado a sua actividade mais tarde do que os dois principais editores do início do século XX (Emílio Biel e Alberto Ferreira), podemos considerar a hipótese de este início de numeração se ficar a dever a razões de ordem comercial (para sugerir que a sua produção era comparável à daqueles dois editores). "


Fonte:
paginas.fe.up.pt


A Fortificação de Monção e a Lenda de Deuladeu:

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